Expectatividade!

Expectativa. Substantivo feminino. Do latim exspectare, significa estado ou situação de quem espera a ocorrência de algo. Reciprocidade. Outro substantivo feminino. Do latim reciprocitas, representa a característica daquilo que é recíproco, no qual há troca, correspondência mútua.

Palavras de descrição simples e fácil entendimento. A complicação vem no momento em que as palavras ganham vida e ultrapassam os limites estáticos do dicionário. Na prática a teoria é outra. Ou vice-versa, e nesse caso pouco importa.

A expectativa de que irão nos devolver aquilo que oferecemos. A nossa expectatividade! Mais uma palavra. Voltemos ao dicionário. Do latim... ops! Não existe. Como assim? Não existe no dicionário uma palavra para expressar uma coisa que a gente sente?

Então a gente inventa! Excelente oportunidade para o processo de criação de uma nova palavra na língua portuguesa devido à necessidade de designar novos objetos ou novos conceitos. Nesse caso, sentimentos. E viva o neologismo!

Infelizmente recebemos mais espinhos que flores, a amizade vira um frio jogo de interesses e o amor nem sempre é correspondido. Aí a gente se frustra, se decepciona, sente um nó na garganta, quebra a cara e chora.

Amor, carinho, amizade, lealdade e consideração, por definição, devem ser oferecidos e não podem ser exigidos, pois assim se tronariam obrigações. Todavia, não devem ser desperdiçados com aqueles que não os recebem. Relações entre pessoas, não importa a natureza, são construções. Para isso, é preciso haver troca, interação. Nada é mais simples.

Isso me lembra o trecho de uma música do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler “cada uno da lo que recibe, y luego recibe lo que da, nada es más simple, no hay otra norma”.

Antes de se iludir com a reciprocidade da reação do outro, é preciso ser recíproco consigo mesmo! É hora de aprendermos a praticar a auto-expectatividade. Talvez seja esse o melhor conselho para manter-se bem: ser fiel a nós mesmos, agir conforme a nossa vontade, percebendo que o bem que oferecemos ao outro, na verdade, é a mola propulsora da nossa própria liberdade. O afeto que doamos não esvazia o nosso estoque de afeto, ao contrário, estimula a nossa fonte e aí, a gente transborda!

Como disse Clarice Lispector: “Até onde posso vou deixando o melhor de mim... Se alguém não viu, foi porque não me sentiu”